






08 de setembro.
A vizinhança e um esquilo chamado Cabeção.
Ontem eu comecei a ficar deprimido. Só para ilustrar, há uma parede nesse apartamento que está toda rabiscada com desenhos infantis, provavelmente feitos pelas filhas de Iliya. E eu, discretamente comecei fazer aquelas barrinhas que fazem os presidiários dos filmes para a contagem do tempo. Fiz de forma discreta e imitando o traço, é claro. Só para dar uma idéia da minha solidão, ontem, somente ontem eu descobri que não há tv em casa. Eu mal assisto tv, mas era uma saída. Porque é muito caro para sair a noite e eu não bebo, não me resta muita opção porque um táxi de Manhattam até minha casa dá mais de $70,00. Foi aí que eu entendi porque Iliya me ensinou a usar aquele trabuco que projeta DVD na parede. O afresco contemporâneo. Liguei para a minha namorada-esposa aí no Brasil e falei com Francisco, meu filho. Eu estava feliz por ter conseguido comprar o videogame que ele pediu de aniversário. Só que falar com eles me deixou ainda mais solitário. Eu já viajei outras vezes, sozinho, mas dessa vez... não tenho com quem falar. A noite estava insuportavelmente quente. Fui dar uma volta no parque, depois voltei. Era sexta-feira e tocava uma musica muito alta. Foi difícil dormir. Tive que contar com a ajuda da medicina, como faço diariamente.
Hoje, ao levantar, decidi que não iria a Manhattam. Posso viver sem expresso. Por isso preparei duas grandes xícaras de um novo instantâneo que comprei “Café Bustelo”. Produto importado de Miami. É de fato uma marca mais forte e concentrada do que a anterior com cor de paçoca. Levei a segunda xícara o um livro e o cigarroo para o telhado. Mas minha cabeça estava aí no Brasil. Como eu sabia que o Francisco estaria sozinho em casa resolvi ligar para ele de novo, só para dizer que as pessoas que cruzo na estação de trem Smith st 9th st, a estação que uso diariamente para ir a Manhattam, bem as figuras são idênticas às das gangues do GTA um videogame que jogava muito com ele. Depois levei meu livro para o parque para continuar a leitura. Hoje é sábado e por isso a maioria dos bancos, incluindo o meu, estavam ocupados com famílias fazendo piquenique. Outros passeavam com seus cachorros. Quando estava prestes a voltar para casa avisto Cabeção. Cabeção, meu amigo esquilo. Ele parecia irritado e mal o cumprimentei e ele começou a discutir comigo:
- “Que diabos você faz aqui? Por que não vai escrever lá na terra que o pariu? O quê você pretende, afinal? Eu li a porra do teu blog! Vai falar mal dos Estados Unidos? O quê você quer? Compreender o outro? É isso? Como pretende escrever uma história sobre um lugar que você jamais, Jamais! Conseguirá entender? Pegue essa cabecinha doente com esse chapéu ridículo e volte para o buraco de onde veio!”
Vamos esclarecer uns detalhes amigos leitores, eu sou careca. E como careca reivindico certos direitos. Por exemplo; pagar meio corte de cabelos. Por isso, durante muito tempo procurei um lugar para cortar meus cabelos nessas condições. Um lugar que eu chamo, ironicamente, de “instituti”. O problema é que a dona do lugar é uma figura tão bacana que hoje em dia eu faço questão de pagar o dobro de um corte normal. Ela me ganhou. Por que estou dando toda essa volta? Para justificar o chapéu. Sim, eu comprei um chapéu. Na verdade comprei três. Sei que quando voltar vão dizer: “O cara voltou metido dos EUA agora usa até chapéu”. Mas foi a Sueli, a dona e cabeleireira do “instituti” que me orientou a usar chapéu porque apareceram umas manchas na parte de fora da minha cabeça, dentro já estava cheio delas, e ela disse que essas manchas no couro cabeludo, no meu caso couro careca, devem ser cuidadas e protegidas do sol. Disse que eu deveria usar um potente filtro solar, mas eu expliquei que odeio essas coisas melequentas e perfumadas. Então ela disse: “você deve usar um chapéu”. E acabei achando alguns por aqui que eu gostei. É isso. Eu também pretendo, como já anunciei em certas palestras, lutar para que os carecas adquiram vagas de estacionamento. Como conseguiram os deficientes, mas essa já é outra história. Eu não discuti com o Cabeção, simplesmente saí andando. E essa foi minha sorte porque a cabei descobrindo o lado charmoso do Brooklyn. Mas, isso eu vou contar amanhã. Seguem imagens dos meus arredores.
Hoje vou dar uma festa no telhado e não vou chamar o Cabeção, nem o pica-pau galinha. Antes só do que ouvindo as verdades.
8 Comentários:
Ahhh, Lourenço...
Como tive sorte de descobrir seu blog!
desde pequena sempre sonhei em conhecer NY...
ainda não pude conhecer.
hoje conheci se blog e já estou amando seus comentários!
espero que quando você terminar de escrever, possa vir aqui para Curitiba(PR) pra lançar seu livro.
Quanto a saudade, ahhhh... isso nem é tão ruim!
Ruim seria não sentir saudade...
É super legal ler os seus comentários!
bem... em sua homenagem tomarei um café...
hehehe...
aproveite bastante.
bjssss
Laís!
Acho que o cara que escreveu o tal livro sobre Nova York por $1.00/dia não deve ter pego táxis em Manhattan.
Aliás, uma porcentagem baixíssima deve conseguir pegar táxis, por aí, com tantas pessoas andando atrás de um.
Caminhe bastante porque é ótimo para inspiração. É o que dizem.
I wouldn't know.
Lourenço, força no chapéu. Nelson Rodrigues dizia que a pior solidão era a companhia de um paulista - bem, digamos que Nelson nunca conheceu os esquilos de Nova Iorque. Isso aí pode estar um deserto para você, mas nós - sádicos leitores - estamos adorando.
As cidades começam assim, meio castas. Daqui a pouco NY perde a compostura, você vai ver só.
Na dúvida, entre sem pedir licença.
Um abraço.
Diário!
Por um mês somente?
Será que com alguns pedidos não conseguimos manter Lourenço viajando por aí?
Beijo grande, querido, e que as coisas não se resolvam num final feliz! Cof!
Este comentário foi removido pelo autor.
Este comentário foi removido pelo autor.
Lourenço, hãm... ontem vi vc lá no fórum lacaniano, e te perguntei do truque. Eu também escrevo, gostaria que você lesse, não sei o que escrevo muito bem... as vezes parece poesia. Não sei... Bom, meu e-mail é angelicabnobrega@gmail.com. Não sei é possível nos comunicarmos, mas fica ai a tentativa.
Abraços!
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