amores expresos

sábado, 8 de setembro de 2007








08 de setembro.
A vizinhança e um esquilo chamado Cabeção.
Ontem eu comecei a ficar deprimido. Só para ilustrar, há uma parede nesse apartamento que está toda rabiscada com desenhos infantis, provavelmente feitos pelas filhas de Iliya. E eu, discretamente comecei fazer aquelas barrinhas que fazem os presidiários dos filmes para a contagem do tempo. Fiz de forma discreta e imitando o traço, é claro. Só para dar uma idéia da minha solidão, ontem, somente ontem eu descobri que não há tv em casa. Eu mal assisto tv, mas era uma saída. Porque é muito caro para sair a noite e eu não bebo, não me resta muita opção porque um táxi de Manhattam até minha casa dá mais de $70,00. Foi aí que eu entendi porque Iliya me ensinou a usar aquele trabuco que projeta DVD na parede. O afresco contemporâneo. Liguei para a minha namorada-esposa aí no Brasil e falei com Francisco, meu filho. Eu estava feliz por ter conseguido comprar o videogame que ele pediu de aniversário. Só que falar com eles me deixou ainda mais solitário. Eu já viajei outras vezes, sozinho, mas dessa vez... não tenho com quem falar. A noite estava insuportavelmente quente. Fui dar uma volta no parque, depois voltei. Era sexta-feira e tocava uma musica muito alta. Foi difícil dormir. Tive que contar com a ajuda da medicina, como faço diariamente.
Hoje, ao levantar, decidi que não iria a Manhattam. Posso viver sem expresso. Por isso preparei duas grandes xícaras de um novo instantâneo que comprei “Café Bustelo”. Produto importado de Miami. É de fato uma marca mais forte e concentrada do que a anterior com cor de paçoca. Levei a segunda xícara o um livro e o cigarroo para o telhado. Mas minha cabeça estava aí no Brasil. Como eu sabia que o Francisco estaria sozinho em casa resolvi ligar para ele de novo, só para dizer que as pessoas que cruzo na estação de trem Smith st 9th st, a estação que uso diariamente para ir a Manhattam, bem as figuras são idênticas às das gangues do GTA um videogame que jogava muito com ele. Depois levei meu livro para o parque para continuar a leitura. Hoje é sábado e por isso a maioria dos bancos, incluindo o meu, estavam ocupados com famílias fazendo piquenique. Outros passeavam com seus cachorros. Quando estava prestes a voltar para casa avisto Cabeção. Cabeção, meu amigo esquilo. Ele parecia irritado e mal o cumprimentei e ele começou a discutir comigo:
- “Que diabos você faz aqui? Por que não vai escrever lá na terra que o pariu? O quê você pretende, afinal? Eu li a porra do teu blog! Vai falar mal dos Estados Unidos? O quê você quer? Compreender o outro? É isso? Como pretende escrever uma história sobre um lugar que você jamais, Jamais! Conseguirá entender? Pegue essa cabecinha doente com esse chapéu ridículo e volte para o buraco de onde veio!”
Vamos esclarecer uns detalhes amigos leitores, eu sou careca. E como careca reivindico certos direitos. Por exemplo; pagar meio corte de cabelos. Por isso, durante muito tempo procurei um lugar para cortar meus cabelos nessas condições. Um lugar que eu chamo, ironicamente, de “instituti”. O problema é que a dona do lugar é uma figura tão bacana que hoje em dia eu faço questão de pagar o dobro de um corte normal. Ela me ganhou. Por que estou dando toda essa volta? Para justificar o chapéu. Sim, eu comprei um chapéu. Na verdade comprei três. Sei que quando voltar vão dizer: “O cara voltou metido dos EUA agora usa até chapéu”. Mas foi a Sueli, a dona e cabeleireira do “instituti” que me orientou a usar chapéu porque apareceram umas manchas na parte de fora da minha cabeça, dentro já estava cheio delas, e ela disse que essas manchas no couro cabeludo, no meu caso couro careca, devem ser cuidadas e protegidas do sol. Disse que eu deveria usar um potente filtro solar, mas eu expliquei que odeio essas coisas melequentas e perfumadas. Então ela disse: “você deve usar um chapéu”. E acabei achando alguns por aqui que eu gostei. É isso. Eu também pretendo, como já anunciei em certas palestras, lutar para que os carecas adquiram vagas de estacionamento. Como conseguiram os deficientes, mas essa já é outra história. Eu não discuti com o Cabeção, simplesmente saí andando. E essa foi minha sorte porque a cabei descobrindo o lado charmoso do Brooklyn. Mas, isso eu vou contar amanhã. Seguem imagens dos meus arredores.
Hoje vou dar uma festa no telhado e não vou chamar o Cabeção, nem o pica-pau galinha. Antes só do que ouvindo as verdades.

8 Comentários:

Blogger Laís disse...

Ahhh, Lourenço...
Como tive sorte de descobrir seu blog!

desde pequena sempre sonhei em conhecer NY...
ainda não pude conhecer.
hoje conheci se blog e já estou amando seus comentários!
espero que quando você terminar de escrever, possa vir aqui para Curitiba(PR) pra lançar seu livro.
Quanto a saudade, ahhhh... isso nem é tão ruim!
Ruim seria não sentir saudade...

É super legal ler os seus comentários!

bem... em sua homenagem tomarei um café...
hehehe...

aproveite bastante.
bjssss

Laís!

8 de setembro de 2007 às 19:36  
Blogger Luciene disse...

Acho que o cara que escreveu o tal livro sobre Nova York por $1.00/dia não deve ter pego táxis em Manhattan.

Aliás, uma porcentagem baixíssima deve conseguir pegar táxis, por aí, com tantas pessoas andando atrás de um.

Caminhe bastante porque é ótimo para inspiração. É o que dizem.

I wouldn't know.

8 de setembro de 2007 às 21:34  
Blogger Heloisa disse...

Lourenço, força no chapéu. Nelson Rodrigues dizia que a pior solidão era a companhia de um paulista - bem, digamos que Nelson nunca conheceu os esquilos de Nova Iorque. Isso aí pode estar um deserto para você, mas nós - sádicos leitores - estamos adorando.

As cidades começam assim, meio castas. Daqui a pouco NY perde a compostura, você vai ver só.

Na dúvida, entre sem pedir licença.

Um abraço.

8 de setembro de 2007 às 21:35  
Blogger Mari disse...

Diário!
Por um mês somente?
Será que com alguns pedidos não conseguimos manter Lourenço viajando por aí?
Beijo grande, querido, e que as coisas não se resolvam num final feliz! Cof!

9 de setembro de 2007 às 07:57  
Blogger Bibiana disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

29 de março de 2013 às 06:18  
Blogger Bibiana disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

29 de março de 2013 às 06:18  
Blogger Bibiana disse...

Lourenço, hãm... ontem vi vc lá no fórum lacaniano, e te perguntei do truque. Eu também escrevo, gostaria que você lesse, não sei o que escrevo muito bem... as vezes parece poesia. Não sei... Bom, meu e-mail é angelicabnobrega@gmail.com. Não sei é possível nos comunicarmos, mas fica ai a tentativa.

Abraços!

29 de março de 2013 às 06:20  
Blogger Bibiana disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

29 de março de 2013 às 06:20  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial