amores expresos

segunda-feira, 10 de setembro de 2007




10 de setemb

Dois dias antes de embarcar nessa viagem eu conclui um novo livro “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”. O livro trata de um personagem que fica obcecado com um fragmento de jornal que recebe pelo correio. Não há remetentes. Junto, no mesmo pacote, vem ainda um pedaço de tecido, veludo, vermelho e três Cds que ele não consegue rodar. Eu já chego onde quero, deixe-me apenas dividir algo curioso, a cabeça da matéria que o personagem recebe está em inglês, língua que ele desconhece quase completamente. Consegue que traduzam para ele, ele mesmo havia feito uma tradução palavra por palavra junto a um velho dicionário. A tradução não o convence. Ele começa a achar que aquilo quer dizer algo somente para ele. Então começa a desenvolver uns gráficos buscando um sentido abstrato que apenas ele poderá compreender. Algo indivisível. Vermelho e obcecado. Obcecado em inglês pode ser “hooked”. Estou em Red Hook. Apenas um devaneio infame, não era isso que ia dizer. O ponto onde quero chegar é que anunciei que havia parado de fazer Histórias em Quadrinhos. O trabalho é imenso e não compensa. Já não estava com o mesmo fôlego e tenho certas mágoas em relação a isso. Decidi, então, que iria também parar de desenhar. Talvez conseguisse reformatar meu cérebro. Eu queria desenhar por desenhar, como fazia quando era garoto. Nunca mais desenhei dessa forma. Sempre era para alguma publicação. Sempre era trabalho. Nunca tive um caderno de esboços porque desenhava muito e quando tinha uma folga era a única coisa que não queria fazer para passar o tempo. Curiosamente comecei a fazer uns gráficos. Comecei a ordenar o alfabeto de forma gráfica. Recentemente eu adotei um filho o Grampá que é um virtuoso quadrinhista e ele fica me provocando, sempre me presenteando com incríveis álbuns de Quadrinhos, materiais e etc... dessa forma, ainda antes de partir eu acabei desenhando. Desenhando por desenhar. E foi muito bom isso. Aqui, pretendia encontrar uma loja de material de desenho para comprar bico de pena e nanquim. Não encontrei nenhuma ainda, mas comprei um Sketch Book e umas canetas de ponta fina. E tenho passado algum tempo brincando com isso. É muito bom desenhar por desenhar. Rabiscar. Sem pretensão e sem ser um trabalho. Sem objetivo, a não ser rabiscar. Ontem comecei a trabalhar pra valer. Fiz uma minuciosa varredura na área em que meus pombinhos iram percorrer (não esqueçam que o projeto Amores Expressos trata de histórias de amor. Amor de qualquer natureza). Encontrei a loja onde meu personagem irá trabalhar “True Value” esquina da Court St com a Schermerhorn St. Isso fica entre Downtown Brooklyn e Cobble Hill. O pessoal da loja não é nada simpático e dois funcionários ficaram me seguindo pelo estabelecimento. Por isso, para poder explorá-la melhor acabei comprando algo para distrair a atenção deles. Será preciso voltar algumas vezes lá, mas consegui fazer uns primeiros registros. Do outro lado da rua há uma incrível livraria a “Barnes & Noble” onde comprei alguns livros que servirão de material de pesquisa. Está é apenas a terceira vez que saio do Brasil, sem contar uma vez que eu a Lu e um casal de amigos cruzamos a fronteira da Argentina apenas para tomarmos café. As outras duas vezes estive em Portugal, terra que eu amo. Da primeira vez fui com a Lu e sem dinheiro algum, fomos participar de uma exposição e lançar O Dobro de Cinco. No ano Passado voltei e passei quinze dias sozinho, dez deles instalado em uma inesquecível cidade chamada Beja. Quero muito voltar lá um dia e rever os amigos que fiz. Dessa vez eu tinha um pouco de verba e acabei trazendo 17 kilos de livros. Eu adoro as edições e traduções portuguesas e espanholas. Para nao correr, ou recorrer no mesmo erro resolvi postar os cinco grossos, mas nem tanto, volumes que comprei para minha pesquisa na Barnes & Noble. A brincadeira custou $69,00 mais a caixa $1,29. Um dólar por dia?! Eu queria encontrar a figura que escreveu esse livro. Nem aquele povo que só se alimenta de água consegue viver com essa quantia. A garrafinha de água custa mais do que um Dólar. Voltando ao trabalho. Agora comecei a trabalhar para valer em minhas pesquisas, é a melhor parte, sempre achei. Ir construindo a estrutura em que irá se apoiar a trama. Como não sabia o que compra na loja-pesquisa acabei pegando um par de luvas para trabalho pesado. Nunca se sabe o dia de amanhã.

7 Comentários:

Blogger Laís disse...

ahhh, que coisa mais chique!
tu sabes desenhar!
aiai... sempre quis saber desenhar por desenhar...

bem...
livros são uma delicia!
acho que você fez bem de comprá-los...

hmmm...

não me surpreende que você tenha passado a fronteira para tomar café...
se fosse um refri, uma água, tudo bem, ficaria surpresa...
mas... bem... estamos falando de café, né?!

hahaha...

continue escrevendo no blog.
estou adorando!


bjjjsss

Laís

10 de setembro de 2007 às 13:16  
Blogger Mônica disse...

sem café hoje?

10 de setembro de 2007 às 13:43  
Blogger bonlume disse...

Desenhar por desenhar é muito bom...
adoro desenhar "relax", sem precisar por detalhes... Beeem solto.pra mim é relaxante (acho que é por que sou preguiçosa quanto a desenhar)

Vai que voce redescobre o prazer de desenhar continuamente (sonhando com a volta dos seus quadrinhos)

Gosto de fuçar diversos materiais de pintura, e de vez em quando, compra los mesmo não sabendo os utilizar.
Gosto muito de cores aleatorias

10 de setembro de 2007 às 15:41  
Blogger Heloisa disse...

Não sei fazer comentários bonitinhos.

Será que você gosta de comentários bonitinhos, sedas rasgadas, papos de cerca Lourenço?

Em verdade vos digo que publicar é ver parentes com seus livros no sovaco, equilibrando seu pathos e uma taça de prosecco na noite de autógrafos.

Mas:

O último post merece ser ovacionado por cheerleaders. Pompom, saia curta, musiquinha, a porra toda.

Tua escrita faz a gente ter vontade de sair na rua e deixar o sol bater no rosto como um tapa.

E ainda tem desenho-recreio de brinde.

A luva vaticina: teus leitores vão te dar trabalho agora, rapaz.

O melhor é que você vai gostar.

10 de setembro de 2007 às 16:22  
Blogger R. Grampá disse...

E aí, pai! Já diziam os mestres do desenhos: Se o cara desenha, o cara desenha...E quer dizer que o teu chapéu tem até fivela, é? Chapéu tudo bem, mas chapéu com fivela o Brasileiro não vai perdoar. Vão dizer com certeza que voltou de NY se achando! Agora só falta voltar pra cá e dizer: " como é que se fala aquela palavra em português mesmo"? Estamos com saudades, aproveita aí o máximo que der e liga esse celular! A Cacá, a Lu, o Francisco e eu vamos comer uma pizza essa semana...Se quiser a gente guarda um pedaço pra quando tu voltar! PS: Hoje eu vi o prédio do Diomedes modelado. Tá foda demais!

10 de setembro de 2007 às 16:28  
Blogger liber disse...

O lance dos Quadrinhos é uma coisa engraçada...

Desde Transubstanciação eu e meus amigos aqui de Curitiba comprávamos seus álbuns. Vez ou outra aparecia novidade na banca. "Mutarelli" pra nós virou sinônimo de histórias pesadérrimas, muito nanquim e desenhos bizarros. Você expressava seus conflitos, suas visões, mas existia um eco na gente. Acho que era um pouco daquele lance da "mensagem na garrafa" que você falou uma vez. A gente curtia pra caramba, os álbuns se misturavam em nossos apartamentos com os livros e fitas e discos e outros símbolos daqueles nossos dias. Fizeram parte da nossa história.

Daí a vida ia passando e a gente ia crescendo e o teu trabalho ia mudando também. Chegou a proposta do Diomedes, chegou um novo rumo. A essência ainda estava lá, mas agora mais sutil, mais refinada.

Li a Caixa de Areia e fiquei de cara. Particularmente, acho um dos seus melhores trabalho. O meu favorito. Quando soube que você ia deixar os quadrinhos, lamentei. Conheci algumas de suas razões em algumas entrevistas que você deu e não dá pra te tirar a razão.

Os teus livros também são ducaraio, mantém a proposta, a autenticidade. Aguardamos os Amores Expressos...

Entretanto, se um dia, espontaneamente, você ir desenhando e desenhando e de repente decidir contar mais uma história em quadrinhos, a gente não ia ficar triste não. Acredite, ia ser superbacana partilhar tuas idéias e visões nos quadrinhos de novo. Sinceramente.

Bom, acho que fiz um comentário meio de "fã", mas fazer o quê? A gente precisa tentar ser franco, né?

Ótimo blog.

Grande abraço.

16 de setembro de 2007 às 18:25  
Blogger DearJohn disse...

Alô? alguem aqui?...

Vou postar antes que se torne proibido:

1- no ano passado comprei 3 Bd tuas por 5 euros cada uma (na feira do livro de Lisboa). SACANEEI-te.

2 - ha dois meses atras comprei 2 Bds tuas por 10 euros cada uma. SEU SACANA.

3- Ontem baixei o filme O cheiro do ralo na net. pirateei (porque raio nao chegou aqui ao cinema ainda?) Sacaneei-te.

4 - Depois de amanha vou à feira do livro de Lisboa outra vez. Alguem será sacaneado. Eu ou tu?


E... epa..olha... sobre a Caixa de Areia (Bem bem fixe) e....como voces dizem aí:

Cara...a Lu é bonita pra chuchu!


PS: se por algum acaso deixares de desenhar ou escrever: Vazo-te um olho.

7 de maio de 2009 às 16:19  

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