amores expresos

sábado, 6 de outubro de 2007

Despedida


Amigos,
Eu gosto de viver em São Paulo, mas não no seu ritmo. Conquistei o que hoje muitos conquistam que é poder trabalhar em casa. Eu não agüento o trânsito daqui, eu nunca ando a passos ágeis e rápidos, saio pouco e só quando quero ou realmente preciso. Mal faço uso dessa tal internet. Sou quase alérgico a ela.
Foi muito boa a experiência de dividir meus dias nesse blog.
Foi muito gratificante ler vossos comentários, mas aqui eu vivo outro ritmo.
Aqui eu amo a minha solidão e o silêncio é muitas vezes o meu idioma. Onde fermento palavras. Aqui eu posso calar em português, minha língua.
Aqui, internet para mim é uma coisa chata. É como pegar trânsito ou ter que andar rápido. Moro em São Paulo, mas vivo em minha casa. Faço de tudo para evitar o estresse, a mania da pressa, quem me conhece sabe que chego sempre uma hora antes da hora marcada. Não toco, espero. Há quase sempre um café, sempre um livro nas mãos ou em processo na minha cabeça. Eu espero com calma. Não faço parte de nenhum grupo. Não leio jornal, quase não assisto TV. Não torço pra nada.
A Lu, minha namorada-esposa é quem responde meus emails e recorta pequenas notas ou matérias que ela sabe que pode me interessar. Nunca ouço rádio porque amo a musica e por isso sempre sei o que quero ouvir. Tenho um amigo-importador que consegue tudo o que é mais improvável em CD e eu os escuto como quem ora.
Tudo isso para dizer que aqui, infelizmente, o blog para mim não funciona.
Aqui há minha escrivaninha que é o meu laboratório, os livros que estudo, todas as musicas que quiser ouvir e café sempre fresco que eu mesmo faço.
É cruel, mas sincero o que digo.
Sei que pode parecer ingrato, e já falamos sobre gratidão. É quase tão cruel como dizer: aqui eu não preciso de vocês. Mas a verdade é que aqui NÃO POSSO precisar de vocês. Porque assim é São Paulo.
E aqui nasci e fui mal-criado.
E de qualquer forma eu os tenho comigo e vocês me guardam.
O respeito e o carinho que vocês tem por mim, é recíproco.
Honestamente adoraria tomar um café com cada um de vocês e provavelmente isso aconteça. Somos um grupo pequeno. Se me virem em uma palestra ou evento, não tenham vergonha, digam que foram dessa nossa irmandade. Dessa nossa pequena sociedade semi-secreta chamada Blog.
Minha profunda gratidão e até um próximo café.
Lourenço
São Paulo 6 de outubro de 2007

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Uma Pequena Nota


No fim deu tudo certo. O dia não passava, e se o Iliya não viesse, e se bagagem excedesse , e se o táxi furasse, e se o bilhete não valesse, e se... Ontem foi um longo dia. Aeroporto é um inferno. Não, é pior do que isso, porque pelo menos no inferno se pode fumar. Já estava sentindo fobia daquela cidade, enfim embarquei. O vôo foi tranqüilo, estava vazio pude ocupar dois acentos. Consegui dormir um pouco. Quando cheguei no aeroporto a primeira pessoa que vi foi o Francisco, meu filho, depois minha namorada-esposa e até mi madre. Pegamos a marginal lotada, mas cheguei em casa. A Lu fez um delicioso almoço. O Francisco foi para a escola, eu e a Lu matamos, não matamos, mas anestesiamos a saudade. Depois capotei. Dormi até o Francisco chegar da escola com sua pré-adolescência latente. Preciso estar mais próximo dele. Nós sempre passamos muito tempo juntos e um mês é muito mais do que 30 dias. Ele mesmo instalou seu videogame. Estou ainda um pouco passado. Tenho um compromisso importante amanhã cedo, a noite janto com amigos. Queria ter postado mais cedo, mas eu tinha tanta coisa para falar com a Lu que ficou um pouco tarde. Prometo postar algo com mais calma amanhã.
Gratidão
Beijos
Lourenço.
PS: Eu sempre disse que a frase que quero em meu tumulo é : “Eu vou, mas eu volto”.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Quase Uma Errata

03 de outubro de 2007, Nova Iorque- ainda.
Estou tão ansioso em deixar a América (do Norte) que acabei dando a entender que partiria ontem, mas é hoje. Tenho que esperar o Iliya para entregar as chaves e pegar um depósito em dinheiro que foi feito pela produção. Depois quatro horas chega o táxi, meu vôo é as nove só que depois das quatro o trânsito começa a complicar muito e estando no aeroporto eu me sinto menos ansioso. Lá, embora não se possa fumar, sempre tem expresso e eu sempre carrego um livro e um caderno. Fora que é muito divertido ficar observando as pessoas. As nove se não houver atraso embarco e chego aí pela manhã de amanhã. Amanhã de manhã, diria Roberto Carlos e seguindo a canção vou pedir um café para nosotros. Tive que abrir a mala para procurar o adaptador de tomada para carregar a bateria do celular. E o pior, depois tive que fechar de novo. Por sorte, abri a mala certa. Não vejo a hora de postar algo do Brasil, da minha escrivaninha, do meu canto ao lado dos meus.
Até já amigos.
Beijos
Lourenço.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

MEU TELHADO E EU



Bem, meus amigos, hoje foi o meu último dia na terra de Sam. U.S. “Uncle Sam.
Dei uma volta em Manhattam pois precisava resolver pequenos detalhes por lá e passei o resto da tarde na parte nobre do Brooklyn tomando expressos, não se esqueçam que é só lá que tem. Consegui fechar as malas com grande esforço. Viajar é sempre muito cansativo. É ótimo, mas sempre volto mais cansado do que quando parti. Claro que essa é uma viagem que vim a trabalho, embora tenha omitido isso do fiscal da imigração, mesmo assim não consigo descansar em uma viagem. A cabeça fica sempre trabalhando dobrado, procurando absorver o máximo. As pernas não param de andar, parece a Pomba-Gira. As mãos na carteira, é cartão de crédito pra lá e money pra cá. Essas coisas. Conversão.
Gostaria de agradecer imensamente aos organizadores desse notável projeto, sinto-me muito honrado por ter sido um dos eleitos. Foi uma grande experiência. E vai ser ainda melhor quando eu chegar em casa e começar a refletir sobre isso. Quando começar a traduzir de maneira ridícula, no meu inglês ridículo todo o material que enviei para o Brasil. Acho que terei mesmo um evento em Curitiba nos próximos meses, preciso confirmar a data e vou aceitar todos os cafés que me foram prometidos. Quanto a Manaus, eu estive em Manaus em 2000 e, essa sim foi uma viagem de muito impacto para mim, profundamente marcante. Fiz Alguns grandes amigos com quem mantenho esporádico contato por telefone. Como disse em outro post, ou penso ter dito, sempre faço amigos por onde passo. Aqui isso não funciona. Aqui é cada um por si.
Cada vez mais as ruas parecem fazer parte da lembrança de alguém. Todos os dias vi sósias de pessoas que não sei exatamente com quem se parecem.
Quero novamente agradecer a vocês porque foi muito reconfortante ter vocês aí, do outro lado. Do meu lado. A meu lado. Vou chegar e talvez nem tenha muito tempo para descansar. Chego na quinta cedo e na sexta já tenho uma importante reunião agendada. Isso é bom. Esses dois últimos anos, quase três, a vida foi muito generosa comigo. Sempre trabalhei duro, mas nunca esperei ou acreditei que meu trabalho seria aceito um dia. As portas sempre se fechavam para mim. Se não fosse a minha Lu, minha namorada-esposa, segurando as pontas e me incentivando, provavelmente eu já teria desistido. Agora tudo parece mais fácil, espero que continue dessa forma, embora no fundo, nós sabemos que nada é fácil.
Eu tinha um amigo que sempre dizia: “Já fui pobre e já fui rico, e pode acreditar, ser rico é bem melhor”. Apesar da frase que ilustrei, acho que vocês entendem que não estou falando de dinheiro.
De minha parte conheci Manhattam de tal forma, que não será. Era exatamente como eu imaginava.
O meu medo agora é com o excesso de bagagem, ou com a alfândega brasileira.
O que mais quero é voltar para a minha rotina.
Prometo fazer alguns post’s durante a semana. Devo estar lançando um novo livro ainda em outubro e, acreditem, gostaria de poder tomar um café com cada um de vocês. Muitos que comentaram são meus amigos e tomaremos, mas de alguma forma todos vocês foram grandes amigos. As vezes é por isso que eu não respondo emails e coisas do tipo. Eu me apego as pessoas. No fim acho que não me portei de acordo com o que deveria ser o Blog. Acho que falei muito pouco sobre a cidade. Ironizei tudo. Esse sou eu. Sempre sincero, ao menos, quando escrevo.
Gratidão
Lourenço
2 de outubro de 2007 New York

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Pequeno Post


Pequena Postagem
1 de outubro
Ontem fiquei pelo Brooklyn. Havia uma grande festa que ocupava toda a Atlantic Av. Minha única preocupação agora é com o excesso de bagagem. Parte de mim já está aí no Brasil. Tinha um quarteto de Jazz tocando maravilhosamente bem ontem. E eu nem sou um grande conhecedor de Jazz. Não tenho educação para o Jazz. Mas fiquei curtindo muito. Depois subiram duas donas no pequeno palco e cantaram um boa musica. Claro que estava melhor quando era apenas um quarteto. Resolvi comprar um CD deles, eles vendiam ali numa das barraquinhas da feira. E com $20 você levava o CD e uma camiseta da banda: “DFJB- Dysfunctional Family Jazz Band”. Comprei e já está no lixo. O CD não tinha nada a ver com o que eles tocavam. Era só as donas soltando a voz. O naipe do repertório, para vocês terem uma idéia, tinha pérolas como- .... Desculpe, fui olhar no lixo, mas esqueci que já tinha despachado o mesmo ontem a noite. Guardei a camiseta. Bem, nada de novo. A única novidade é que vocês me convenceram a postar mais alguns dias no blog. Prometo que vou postar a minha primeira semana de volta ao Brasil. Quanto aos livros que não contem gratidão não sei, as vezes realmente mudo com medo que percebam que a única coisa que muda nos meus autógrafos é a assinatura. Nunca consigo assinar igual. Ou, é cada vez um de nós quem assina. Vou andar. O joelho está um pouco melhor e eu preciso de um expresso. Como esse foi muito curto prometo tentar postar mais um hoje a noite.
Depois de amanhã embarco. Estou ansioso. É curioso que mesmo no bairro onde vivo Em São Paulo, eu desenvolvi uma rotina de uma volta diária. Passo numa livraria, tomo sempre um expresso vou na Kalunga... coisa de velho aposentado, ou de quem trabalha em casa. Beijo. Obrigado pelo post Joca e Paulinho.

domingo, 30 de setembro de 2007

RED HOOK TE DÁ ASAS.




Veja que coisa fofa estava hoje na porta do prédio. Uma asa de pombo. Deve ser coisa do cabeção. Hoje é sábado e Manhattam estava “bombando” como dizem por aí. Tinha muita gente e muita sacola. Sentei na Union Square e fiquei no meio da multidão analisando essa nossa espécie. Comprei uma camiseta essa com a frase da foto. É a melhor definição, podem acreditar. Isso aqui é um hospício chic, mas é isso aí Coca-Cola. E tem tanto rato no metrô que você acaba entendendo porque o símbolo da América é o Mickey. Eu já tinha usado essa? Não lembro. Tudo se repete. Muito bem, vamos aos fatos. O metrô aqui é como o metrô de São Paulo, no fim de semana algumas entradas das estações fecham. Fica funcionando apenas algumas entradas. Ontem eu desci em uma na Court St, Brooklyn e percebi que estava fechada. Havia uma senhora oriental que tentava a todo custo passar seu bilhete. Ela nao percebeu que estava fechada porque as grades dessa estação ficam depois da catraca e as catracas eletrônicas ficam desativadas. Fui tentar ajudar, no meu ridículo inglês e ela disse que não falava inglês. Arrisquei meu ridículo espanhol e ela riu. Comecei a gesticular e fazer mímica, mas ela não entendia, ou não confiava. Ela me levou até o mapa que fica pendurado em uma das paredes e apontou para o “você está aqui”. Só estávamos os dois naquela entrada. Eu sinalizei que devíamos sair e pegar o trem do outro lado da rua. Ela entendeu mas hesitou. No fim, acabou tendo que confiar em mim e me segui. Saímos da estação, esperamos o demorado farol da Court St abrir, atravessamos e então mostrei a entrada que estava aberta. Fomos até a catraca, nessa haviam várias pessoas e ela agradeceu e passou. Eu fiquei pois tinha que encontrar meu bilhete que por alguma razão, ou sem-razão, não estava na minha carteira. Encontrei o bilhete, dois aliás, na minha bolsa. Deixei as pessoas passarem e quando passei o primeiro fui informado de que não havia crédito. Passei o segundo e a mesma informação se repetiu. Então ouço um homem falando muito alto, olho para baixo, nessa estação você pode avistar a plataforma de embarque através de grades. Era um senhor oriental e ele falava comigo em seu idioma. Não conseguia entender, então ele apontou para a catraca. Eu olhei e lá estava a senhora me estendendo o seu tíquete através da grade. Agradeci profundamente. Fiz o gesto que os orientais costumam fazer para demonstrar gratidão. Não aceitei. Eu tinha dinheiro e precisava mesmo comprar o meu tíquete semanal. Esse pequeno gesto me tocou. Ela teve que subir toda a escadaria para ir me levar o tíquete e só queria retribuir minha ajuda. Bem, eu disse que Nova York não me impactou. Porque a arquitetura aqui segue os mesmos princípios da arquitetura católica. A arquitetura das igrejas. As igrejas tem suas grandes naves e seu pé direito altíssimo para fazer com que o homem se sinta pequeno. É a casa de Deus. Tudo deve impressiona-lo. Ele deve sentir-se pressionado e oprimido por sua arquitetura. Assim é Manhattam. O Deus é quase o mesmo. O bezerro de ouro, a moeda. Se você pesquisar um pouco sobre as inquisições verá que grande parte, a maioria, principalmente em Portugal e Espanha, das pessoas que foram para a fogueira eram judeus. Em Évora cerca de 90%. O interesse da igreja católica era se apropriar de suas posses, aproveitando para acusa-los daquilo que ela não aceitou ou se apropriou de sua filosofia. Para mim, a verdadeira diferença entre essas duas religiões e o que motivou tanto conflito está, meramente, na questão dos juros. Mas, essa é quase outra história. Os grandes edifícios e os juros altos não me impressionam. O que me toca são esses pequenos gestos. Como a senhora oriental subir todos aqueles lances de escada apenas para demonstrar a sua gratidão. Quando autografo um livro sempre escrevo essa palavra, gratidão.
Obrigado amigos,
Com gratidão,
Lourenço.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Tira Dúvidas de Português



CALMA QUE AINDA NÃO ENTERRARAM O PRESUNTO!

Eu sei que comecei a me despedir, a agradecer e coisa e tal, mas vocês vão ter que me acompanhar até o último dia de viagem. Meu último post será, creio, no dia 2 já que embarco dia 3. E como sou meio ansioso gosto de chegar no aeroporto umas trinta horas antes. Hoje pensei em ajudar a vocês com dicas úteis, caso venham um dia a esta cidade. Primeiro lugar, parem de pagar aulas de conversação. Isso não existe aqui. Não tem conversa nenhuma. O que realmente é necessário saber , por exemplo, um pouco de pesos e medidas. Ou seja é essencial saber a diferença entre: small, medium ou large. Para pedir sua bebida e muitas vezes sua comida. Quanto ao café, basta pedir expresso, double shot. Isso se você gosta mesmo de café ou, dopio, se você estiver na Starbucks. É fundamental saber a diferença entre uptown e dowtown quando for pegar o metrô. E fique muito atento porque dependendo da estação, na verdade a maioria delas, no mesmo trilho que passa o trem F passa o trem V e ainda dependendo da estação pode passar o B e o D e eles vão para lugares completamente diferentes. Quando comprar algo com cartão de crédito e eles não acharem você tem uma cara muito confiável vão pedir sua ID. Seus documentos, sua identificação. Estudem um pouco a sonoridade numérica ou vão fazer como eu. O táxi deu $17. Como foi o segundo táxi que peguei e o primeiro que veio do aeroporto custou $70 eu achei que era o preço. Paguei $70 por uma corrida de $17 e ainda dei dois de gorjeta. A gorjeta faz parte da corrida. Dê 10% isso é o mínimo que eles aceitam. Claro que existe o taxímetro e basta dar uma olhada, mas eu nem olhei. Se alguém espirrar não diga saúde e sim “God bless you”. Em Portugal se diz “santinho”. Não existe o tal de “You are Welcome” como nossa professorinha ginasial sempre insistiu, basta o “you welcome”. Outra coisa sobre o metrô. A passagem custa $2 Dólares. Outro dia nao tinha trocado e dei uma nota de $20. A mulher me perguntou: “one?”. Eu respondi sim. Então ela me deu o bilhete com $20 dólares de carga. Isso é uma estupidez pois com $24 você compra o passe semanal e viaja muitas vezes mais. Outra dica se vier nessa época do ano, traga regata e chinelo de dedo. Consulte antes o clima na internet ou uma mãe de santo. Dica de utilidade pública: Na Times Square que é o centro do agito tem loja de tudo e naturalmente as lembrancinhas custam os olhos da cara. Pois saiba que se voC6e entrar nessas lojas cujo dono é indiano comprará belas camisetas com eu amo NY por $2 ou 10 por $7. É aquele presentinho ideal para levar para os parentes mala. Provavelmente essas camisetas foram extraídas de turistas que morreram de Ebola ou coisa pior, porque o pano é bom e a estampa parece mui resistente. Eu até pensei em fazer uma versão dessa clássica camiseta com os dizeres:
“I (coração) NY” pensei na versão “I (coração) KY”.
Outra dica é que dá para fazer dinheiro fácil aqui em NY basta você denunciar alguém, pode ser um amigo (vide fotos). E se você tiver a sorte de saber o paradeiro de Oshama ou de alguém que se pareça com ele, então ficará rico. Eu tenho um amigo que é sósia do homem, mas vive na Alemanha. Mesmo assim vou arriscar uma denúncia. Quem sabe eu não saldo a dona Visa e o Sr. Mastercard?
Amanhã quero ir cedo para Manhattam por isso já vou por esse post a noite. Obrigado pela presença e pelos comentários e lembrem que tem post até o dia 2.
Beijo a todos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

SIGA A BOLINHA



Ontem o calor voltou. Hoje o clima está insuportável. Voltei para casa só para ficar no ar condicionado. Eu não gosto disso, nem de calor nem de ar condicionado, mas está muito quente.
O filme de hoje é um musical.
Sempre soubemos das pessoas que tocam e cantam no metrô, isso em muitas partes do mundo, e inclusive NY. Ontem eu assisti um dos piores e mais hilariantes espetáculos que consigo me lembrar. Era um homem com cerca de ... entre, trinta e sessenta anos, negro com seu violão. Me acomodei na escadaria da biblioteca do Brooklyn e assisti a criatura mais desafinada que se possa imaginar. Ele carregava seu pequeno amplificador em um carrinho de feira. Ao fim de cada musica ele agradecia a platéia, mas a platéia eram pessoas que já estavam lá antes dele chegar. Todos aqui comem fora, literalmente. Nas escadas, na calçada, ou numa casinha de sapé, onde houver um lugar para sentar. Ninguém aplaudia ou jogava moedas. E ele cantava para a sua grande platéia, provavelmente de esquilos imaginários. Sempre tem alguém cantando. Outro dia peguei um vagão com um incrível coral negro. Todos colaboraram com notas de um Dólar, incluindo eu. Houve um violonista que tocava com uma precisão e delicadeza incrível. Dei um Dólar e pedi para tirar uma foto. O pior, para mim, são os que tocam flauta doce. Eu tenho trauma desse instrumento porque quando eu era jovem minha irmã passou anos tentando aprender...Foi horrível. Só de lembrar me arrepia. Mas ontem... ontem um desses moradores de rua, eu já tinha visto ele na 14. Ele me chamou atenção. Um velho tipo junk mexendo nos lixos com um violão, muito novo, pendurado. Ontem ele estava tocando em uma plataforma, não me lembro qual. Cantava “Imagine”, que eu acho uma musiquinha medonha, mas na sua voz foi incrível.
Porque como eu disse, isso aqui todo mundo conhece. Tudo aqui é como se pode imaginar. Nova Iorque é igual aqui, no cinema ou na TV. As únicas coisas que quebraram as minhas expectativas foi que eu nunca imaginei que aqui tanta gente usasse chinelo de dedo. Acho que uns 80% dos três terços de meus cálculos. E que fosse tão quente no outono. É verdade que o café me surpreendeu, eu sabia que era ruim, todos sabem, mas superou a pior das expectativas que pudesse imaginar.
Eu vi sete cegos durante o este tempo, doze anões, brasileiros, indianos, e toda a latino América... É difícil manter um blog sem novidades.
Então como estou irritado, com o maldito calor, e a musiquinha não me sai da cabeça vamos terminar no mesmo ritmo.
Em homenagem ao velho senhor, vamos cantar! Tudo bem se não rimar.

Então vamos lá, todos juntos, siga a bolinha:

“Imagine o prédio do banes-es-es-pa,
O daqui é bem maior,
Imagine um shopping center
Pode crer, você pode imaginar.
Imagine um calor dos inferno-ô-ô-os
É possível se você tentar,
Imagine all the people
Hablando español-ó-ó-ól.
Você pode dizer que estou bêbado
Mas, na verdade foi café,
Uns se vestem de rega-a-tas
Outros com blusa de lã-ã-ã....
Imagine all the people
Se empurando na Times Square-é-é.
Vocês dirão que estou zure-e-e-eta,
Mas a verdade nunca é uma só
Se não há remédio pra tu-u-u-do
Para o que tiver eu vou toma-a-a-a-ar...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Argumento



26 de s
Agora é a última semana. No filme seria a parte que as coisas começam a esquentar. O tempo voltou a esquentar. Ontem estava um calor horrível. Um dos chapéus que comprei empipocou minha careca. Já não uso chapéu. Hoje o céu ameaça chuva. Nunca vi um céu dessa cor. Um chumbo misturado a magenta. E as ruas já fazem parte da minha memória. Outro dia percebi que um belo jardim que havia no meu trajeto desapareceu. Lembram quando falei que caminhava na lembrança de alguém? Talvez esse alguém sofra de esclerose. “Brilho eterno de uma mente sem lembrança”. Talvez, a história de amor esteja sendo apagada.
Mas, já tenho meu argumento.
Um jovem entre vinte e um e vinte e cinco anos trabalha numa loja que vende inseticidas e raticidas (uma homenagem a Burroughs). A loja pertence a seu pai. A loja fica no Brooklyn, Court St com Schermerhorn St. Ele não gosta de seu trabalho, mas é sua herança. O pai é um americano WASP do meio-oeste. Um branco católico, que foi membro da KKK e é seguidor da eugenia. O rapaz se apaixona por uma mulher latina, talvez um pouco mais velha. Ela faz de tudo para esconder e negar sua ancestralidade, mas não consegue. Não percebe isso, acredita que não tem sotaque e que seus traços não a entregam. Todos percebem. Ela tem uma bíblia que é um livro de bandeirante, escoteiro. Ela vive nos blocos de prédios para negros e latinos em Red Hook. Trabalha em Manhattam, em uma Starbucks. O menino se apaixona e pensa que é a chance de quebrar os preconceitos do pai. O menino não gosta da forma que o pai fala sobre negros, latinos e judeus. Ele leva sua namorada em casa. O pai fica indignado. Mas a moça é muito bonita. Ele a agride com ironias. Eles resolvem enfrentar os preconceitos. Um dia ela vai visitar seu namorado em sua casa, mas ele não está. O pai não diz isso, manda ela entrar. Eles discutem e o velho a estupra. Ela guarda esse fato para proteger seu namorado. Síndrome de Estocolmo. O velho volta a molestá-la sempre que pode e eles acabam se apaixonando. O pai e a nora. Das profundezas começa a surgir um amor verdadeiro. Da corrupção, brota um amor puro. Eles não querem ferir o rapaz. A relação segue. Um triangulo velado.
Esse é o meu argumento. Começarei a escrever quando chegar em casa. E antes de partir, antes que novas ruas ou espaços desapareçam, eu gostaria de agradecer a todos que postaram seus comentários. Eles foram uma grande companhia para mim. Este não é o meu ultimo post, mas mesmo assim, quero agradecer à:
(por ordem de postagem)
Del Corso, Hermes, Akemi, Renata, Ivana, Taís, Heinar, The Lucas, Xico, Esther, Anônimo Cidadão Ordinário, Bruno, Luis Gustavo, Y. Nishi, Então, Lucimar, Klevanstoteny, Rodrigo, André de Leones, Andrei, Lais, Luciene, É Engano, Mariana, Evelina, Bonlume, Capitão Ácido, Mônica, R.Grampá, Liberland, Simone, Mitie, Socorro0 Acioli, (...), Adriano, Arnaldo Branco, Dudu, Liz Mercadante, Claudia(o), Ive Môco, Pellizzari, Pacha Urbano, Dennison, Wtamanaha, II, Jesus Kid, Daniel, Miruha, Emerson Wiskow, Foncati, Eduardo, Ana Teixeira, Bianca, Gian Carlo, Ana, Ana Sol, Anjobaldio, Wilma, SM, Azuza, Paula Braun, Pedro, Karla.
Como podem ver os créditos começam a subir. Em breve as luzes serão acesas.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

BOLETIM DE OCORRÊNCIA.


Por orientação quase medica, minha “personal style” Maria, recomenda: Tênis com amortecedor e compressa de gelo. Isso é para o joelho.
Sigo o protocolo.

Pequeno dialogo com Tadeu Jungle:

Eu – “Tenho andado muito, demais. Como nunca andei.”
Tadeu – “Essas ruas foram feitas para andar.”
Eu – “É, mas eu não.”

Episódio noturno em Red Hook. (com livre tradução simultânea do autor)
Estou no ponto de ônibus. Acho que eram oito e meia da noite (sei que Red Hook é um bairro perigoso quando a noite cai. Por isso durmo em Manhattam quando o programa termina tarde). Mas ainda era cedo. Um carro com vidros escuros pára à cerca de uns seis metros do ponto no meio da rua. Essa rua não é muito movimentada. O carro fica parado por uns cinco minutos. Normal, aqui é o Gancho Vermelho. Sempre tem essas figuras tipo gang do GTA.
De repente o carro avança esses poucos metros e para a meu lado. Quando vejo as figuras dentro, quase me cago. Policia. Tenho fobia de policia. Cresci numa família de policias. Sei do que estou falando. Os policiais estão fardados. Permanecem parados. O policial no banco do passageiro é um tipo irônico.
Usa um bigode igualmente irônico.
Segue o dialogo:

Policial de bigode – (sarcástico) “Você sabe onde fica Red Hook?”
Eu- (quase cagando) “Aqui é Red Hook”.
Policial de bigode – (rindo) “Humnnnn!”....
Policial de bigode – “Você mora por aqui?”
Eu- (apontando) “Moro, ali...”
Policial de bigode – “Mora ali?”
Eu – “Moro.”
Policial de bigode – “Faz tempo?”
Eu- (nervoso, cheio de Lorax na bolsa consigo deixar meu inglês ainda mais ridículo) “Moro a “small time”...”
Policial de bigode – “Small time?”
Eu- (agora já foi) “É, small time.”
Policial de bigode – “Se você mora aqui, o que faz no ponto de ônibus?”
Eu- “Vou pegar o ônibus.”
Policial de bigode – “Pra onde?”
Eu- “Para Manhattam.”
Policial de bigode – “Mas mora aqui.”
Eu- “É.”
Pausa.
Policial de bigode – “Você sabe que aqui é um lugar perigoso?”
Eu- “Sei, sim senhor.”
Policial de bigode – “Então tome cuidado.”
Eu- “Tomarei.”
Policial de bigode – “Se cuida.”
Eu- “Obrigado.”
O carro avança não mais que dois metros e pára.
Permanece parado por cerca de quinze minutos. Embora eles estejam fardados o carro é um carro comum. Um senhor se aproxima do ponto. Eles esperam mais um pouco. Partem. Tento ligar para casa, ninguém atende. Ligo para Rodriguez. Ele não consegue me ouvir muito bem. Só precisava falar. Nem era preciso que me ouvissem. O ônibus demora mais uns 10 minutos. Dou passagem para o senhor e embarco para Manhattam.
Agora faltam oito dias. Começo a tentar botar tudo nas malas. Não é fácil. Ontem havia dormido novamente em Manhattam. Levantei cedo. Caminhei muito. Pelo mapa já percorri toda Manhattam, com exceção do extremo Norte. Já é hora de sair. Prometo tentar voltar mais inspirado.

domingo, 23 de setembro de 2007

O DE SEMPRE E O ETERNO parte 2







Houve uma pequena ausência de minha parte nesses últimos dias. Coisas a fazer. Amigos que precisava encontrar. Acabei chegando sempre muito tarde e exausto. Fui a YALE em Connecticut com Rodrigo, Maria e Letícia que estudou lá e queria voltar para fazer uma visita e nos apresentar a região. Foi um passeio muito divertido e agradável. Foi como um dia de folga. Um dia fora de Nova York. Anteontem chegou o Tadeu Jungle que está filmando os documentários das viagens dos Amores Expressos. Passei o dia de ontem com ele dando meu depoimento e registrando um pouco da minha rotina diária. Em breve vocês poderão ver, na TV ou em DVD. No fim da noite fomos jantar com Rodrigo & Maria e Mauricio Zacharias. Eu tinha tido o prazer de conhecer o Mauricio outro dia num café da manhã. Ele é uma pessoa incrível e muito amável. Os Rodriguez ( Rodrigo & Maria) são amigos muito queridos e o Tadeu quase me matou de rir. No fim da noite dormi em Manhattam novamente porque a área em que estou em Red Hook não é o lugar mais seguro de NY.

PARTE 2
O Metropolitan é gigantesco. Percorri só a parte de meu interesse. Grécia, Roma, Etruscos e obviamente Egito. É emocionante e triste ao mesmo tempo. Em uma das primeiras postagem que fiz para o blog, meu cunhado Hermes mandou uma mensagem estranhando minhas lamentações a respeito da solidão. Hermes me conhece. Sabe que adoro estar só. Sabe que convivo e aprecio muito essa condição. Mas a solidão que vivo aqui não é minha é de Iliya. Porque cercamos nossa solidão com nossos pertences formando assim uma espécie de casulo. Aqui, nada é meu. Mesmo as coisas que comprei aqui só serão minhas quando eu as colocar em seu devido lugar. Em meu casulo. Até que o pó do tempo e do espaço possa revestir suas formas e tingir suas cores. Assim fizeram os Faraós. Procuraram guardar os objetos que talvez os exteriorizassem. Elementos, coisas que talvez de alguma forma materializassem seus sentimentos internos. E como acreditavam que voltariam um dia, as levavam para os túmulos. Poucos conseguiram dar a matéria tamanha durabilidade como eles fizeram. Hoje, seus pertences estão espalhados pelo mundo. Caso um dia despertem, descobrirão que tudo o que julgavam ser seu, não era. Tudo foi dilapidado e espalhado por vários cantos do mundo. Descobrirão que a posse é temporária e ilusória. Assim funciona. Nada é eterno. Nada é teu. Talvez, nem mesmo o pó persista. Nenhum império, por maior e próspero que seja, permanece.
E o que restar será espalhado em futuros museus. O mais curioso é que o que fica é a arte. Mesmo o verbo morre. A língua é viva e eu acho muito pouco provável que alguém consiga entender, por exemplo, o inglês de hoje daqui a três mil anos. E o que hoje vemos nos museus também haverá deteriorado. Não importa o cuidado com que se guarde.
Provavelmente se encontrará nos museus um enorme M amarelo.
Deduzirão, quem sabe, que era um Deus que amamos.
Não estarão completamente equivocados embora exista um abismo entre isso e o que de fato o M amarelo significa. Da mesma forma procuramos compreender esse povo antigo que construía pirâmides e acreditou no eterno.
O que restar será arte.
Sai do museu em profundo silêncio. Um silêncio, inclusive, interno.
Não era paz o que sentia, era ausência.
Não saí vazio, obviamente, mas tampouco sai saciado.
Acabei inflamando o joelho de tanto que tenho andado esses dias. Mas, mesmo manco seguirei andando. Procurando uma história de amor que se passe em New York.
Meu conforto, é que a minha verdadeira história de amor me espera em casa junto a meu filho, que fez aniversário ontem, e meus queridos gatos.
Um beijo a todos
E meu amor para você, minha menina Lucimar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O DE SEMPRE E O ETERNO





18 d
PARTE 1
Hoje decidi ir ao Metropolitan. O que realmente me movia era a sessão do Egito. O Egito sempre me causou um impacto indescritível. Desde pequeno sofro essa sensação que se apossa e me assombra. Conheci uma senhora egípcia que disse que se um dia eu quisesse visitar seu país teria um lugar me aguardando, casa e comida. Eu lhe expliquei, no meu ridículo inglês (que na época era o mesmo de hoje), que se um dia eu pusesse meus pés nessas terras eu enlouquecia, ou talvez, mais especificamente, eu dissolveria. Perderia minha concepção de indivíduo. Disse que isso não era uma metáfora ou figura de linguagem, era fato. Uma dessas certezas que carregamos desde muito crianças. Ela me confessou que quando jovem visitou um templo, não era dos mais famosos, numa excursão com a escola. E que recentemente voltou ao local. Disse que o impacto foi tão grande que ela me entende. Durante toda a sua vida ela sonhava com esse lugar. Eu já sonhei com inúmeros locais dessa terra distante e ao mesmo tempo presente. A familiaridade que o Egito me traz nada tem a ver com a que sinto aqui. É uma familiaridade interna, não mística, genética.Tive uma professora no ginásio, Dona Adail, que nos descrevia de tal forma esse sítio, essa cultura e seus mitos, que isso ecoava ainda mais forte nessa minha sensação abstrata. Mas, antes de chegar ao museu tinha chão e é disso que vou tratar nessa primeira parte.
Acordei muito cedo, era noite ainda, fiquei adiantando minhas coisas e depois voltei a dormir. Então já eram dez horas, fiz uma rápida postagem no blog e saí. No ônibus estava o Pirata Protagonista, aquele de rabo de cavalo que conversa com todos. Percebi que ele é quase um líder comunitário, alguém que se preocupa e procura ajudar seus conterrâneos latinos. Vi ele dando uma dura em um que está se desviando do caminho, fraquejando. Ele parece uma figura realmente incrível. Outro dia sorriu orgulhoso para mim, com ar de aprovação, porque cedi meu lugar para uma senhora. Gostaria de trocar umas palavras com ele, mas não quero perturbar. Sempre que viajo faço amigos. Amigos que ficam para sempre, embora eles saibam e respeitem o fato de eu não responder ou trocar emails. Foi assim em várias partes por onde passei. Não aqui. Aqui não há tempo nem espaço. Nada deve fugir ao roteiro, afinal a velha York é um filme. Aqui, até o céu é made in China. Vocês devem ter reparado em uma imagem que mandei com algo escrito no céu. Não dava para ler tudo, mas a última palavra era Taiwan. Eu já chego lá. Peguei o velho trem em na Smith linha F. É curioso que o trem, esse mesmo, só é considerado metrô quando mergulha nas profundezas da terra, sete palmos eu creio. Entendem? O mesmo trem, é trem e metrô. Nos primeiros dias alguém me disse: “Aqui no Brooklyn não há metrô, só trem”. É isso. Só que sobre os mesmos trilhos esse trem quando entra na terra vira metrô. Acho que ao invés de explicar estou confundindo. Enfim, é isso. Smith, Carrol, Bergen, Jay & Borough Hall, York, East Broadway, Delancey, Lower East Side 2 av, Lafayette, W 4 St, 14 St, 23 St, 34 St, 42, 47-50, 57 Street. Desci. Caminhava até o Central Park quando percebo os tais anúncios? Surgirem no céu. Eles surgem como nuvens de pixel. E pixel a pixel vão desenhando palavras. Talvez vocês saibam o quê é isso, ou como é feito. Para mim a impressão é perturbadora. Acho que estou meio perturbado hoje. Vamos ao parque. O Central Park cheira a esterco e mijo por causa dos belos cavalos e suas charretes pomposas. Resolvi caminhar um pouco e observar as pessoas, o parque eu já tinha visto e mesmo antes disso eu já tinha visto. Há muitas jovens senhoras e senhoritas almoçando saladas em baldes tal qual os cavalos em suas charretes. Todos se hidratam com água, cuja embalagem diz 100% natural. Eu quero saber o que tem no resto, pois se só 100% é natural do que é feito o resto? ( Brincadeira com minhas porcentagens caso alguém tenha pego o blog andando). Ou com sucos. Aqui todo suco é cítrico e quando não é cítrico é acido do mesmo jeito. Outras se deitam na grama com seus curtos vestidos e calçolas rendadas ( vide foto). Alguns correm, muitos dormem, outros lêem. Tem zoológico, mas nem é preciso entrar porque tem patinho e outras espécies soltas por toda a parte do parque. Aqui tudo é filme em Never York, ou The End. Depois de tirar umas fotos continuei subindo, mas agora a pé.59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, na 68 decidi parar para descansar um pouco e fumar outro cigarro. Comprei um suquinho da mais ácida maçã e me sentei em um banquinho de madeira. Ao repousar o frasco de meu refresco no banco, deparei com a seguinte e diminuta plaqueta: “In Memory of Joseph Slifka”. Será que aqui todo banco é dedicado à memória de alguém? E como sou mesmo de Brooklyn Back agradeci o colinho amigo. Segui, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77 e lá estava o belo museu.
(fim da primeira parte)

terça-feira, 18 de setembro de 2007




17 de
O outono começa a se firmar. Um vento frio e cortante sopra. Eu prefiro assim. Ontem eu andei feito um burro. Red Hook, Carroll Gardens, Cobble Hill. Peguei o metrô até Franklin St onde Burroughs morou, e segui Tribica, Soho, Nolita, Greenwich Village. Outro metrô até Times Square. Cheguei lá no fim da tarde no “happy hour” e tinha tanta gente “feliz” na rua que eu fiquei tonto. Todo mundo com pressa. Se marcar eles te empurram. Turismo estressado. Liquidação. É ver quem pega primeiro. Afinal o “american way” não deixa de ser um jeitinho. Tomei incontáveis expressos. É curioso que na Starbucks a maior fila geralmente é a do banheiro. É sério, muita gente longe de casa. E o banheiro é um só, seja você homem ou mulher. Eu mijei no Mc Donald’s. Lá a fila só é grande nos caixas. Depois peguei o trem para casa na 50a. Ao chegar encontrei Violette congelada na parede. Pobrezinha esqueci de desligar a traquitana russa. Violette ficou na pausa. Ela estava puta. “Violette puta do Cairo.” Perguntou onde eu tinha me enfiado. Eu disse que só estava andando. Ela nem fez a janta. Fui para a cozinha, que fica no mesmo lugar, loft é isso aí. Não dá para esconder a bagunça. Jantei pão com queijo. Capotei. Antes liguei para casa, a real, imagino. Falei com minha Lucy a mulher de verdade. Ela perguntou para meu filho, Francisco, “quer dar um oi para o pai?” então ele disse: “fala oi pra ele”. Oi. É claro, o videogame já está na mala. Mas falando em Happy hour, aqui toda hora é assim. Aqui é sessão da tarde 24 horas. Eles continuam a nos dar espelhinhos e bugigangas e nós continuamos sorrindo e abrindo as pernas feito Violette. Apesar disso não me recordo de nada engraçado que tenha ocorrido ontem. Um cara me pediu para eu lhe pagar um prato de comida e eu disse não. Ele não gostou. Mas eu já dei dólar para veterano de guerra, paguei passagem de metrô para uma latina, dei cigarro aos montes aos mendigos e comprei limonada de dois garotinhos, se continuar assim logo, logo, sou eu quem vou estar pedindo. A Dona Visa e o Sr. Citibank já começam a regular ninharias. E agora eu viciei numa gororoba que é um tal de crispy ou algo assim. É feito de flocos de arroz prensados com marshmallow no meio. Tem um tipo industrial “marshmallow Treat” e um com aparência mais caseira que vende na Starbucks. É do tamanho de um tijolo e dá uma ótima liga com um dopio e Lorax. Uma hora no mínimo de Happy hour. Agora é hora de andar. Beijo aos amigos.

domingo, 16 de setembro de 2007

Jogo rapido





16 de s
31 horas fora de casa. Fora dessa minha estranha casa. Estava sentindo falta. Até o Cabeção ficou preocupado. Deixou um bilhete na porta. Na verdade uma noz. Para bom entendedor. Desci da tal feira, meia boca, de livros do Brooklyn e vim caminhado louco para destravar minha porta. Estava com medo. De longe tentava avistar a fumaça. Fumaça saindo do meu telhado. O churrasco do alemão era esse fim de semana. Eu não queria ver ninguém. Só queria chegar. Imagina ainda ter de enfrentar um churrasco alemão no meu próprio telhado. Ao invés de pagode, pelo menos ia ser Wagner. Por sorte se foi, já era. Foi ontem, quem sabe? Comprei um DVD de uma tal de “Violette Blue” para me fazer companhia. Acho que vou projetá-la na parede. Na maquininha do russo. Iliya. Já que Iliya não está, que seja a minha Iliya da fantasia. Essa doeu, mas eu estava segurando faz tempo. Era uma lojinha incrível essa onde conheci Violette. Vendia punho de borracha aberto e fechado para fazer fist-fuck. Era uma obra digna de Michelangelo. Parecia as mão do Davi. $25,00. Eu queria comprar uma mão. Pela curiosidade, não vão pensar uma coisa dessas de mim, por favor. Passei esse tempo com a família Rodriguez, desconfio que façam parte da máfia brasileira. E por falar em máfia, ontem passeamos em Little Italy. Nas ruas de “ Era Uma Vez Na América”. E andamos no Soho. Ainda falando de máfia, assistimos ao último filme do Cronenberg “Eastern Promises”. Andamos pra diabo. E eu no fim queria voltar para esta estranha casa. Tomar banho, usar meu banheiro, essas coisas. Compramos material de desenho, bico de pena e tudo mais. Só esqueci das cabeças de alho. Hoje vou rever os fantasmas.
Sigo no meu inglês ridículo associado a mímica e caretas. Outro dia um vendedor não conseguiu me entender. Era jovem, pobre alma. E hoje amanheci em Manhattam e andei logo pela 14 com a 7a West Village, creio. Era uma vez, e isso aqui não é a América. Isso aqui é cinema. Anteontem lavei minha roupa suja na lavanderia do prédio. O que mais se vê na parte “chic” (como diria minha amiga brasileira que encontro no ônibus e pensa que meu nome é Lorez) do Brooklyn é lavanderia. 80% de lavanderias, 80% de Delis e 80% de bandeiras americanas. Querem outro trocadilho infame? Aqui toda loja é americanas. É tanta bandeira que parece que estamos na copa. E eu fui lavar minha roupa e botei as moedas na máquina. Peguei um livro enquanto a roupa batia. Me sentia num filme. Sessão da tarde. Era uma vez na América um chicano de chapéu lavando suas roupas, porque nasceu pra baixo de e Houston é chicano. A centrífuga grande é uma maravilha. A roupa sai quente, nem precisa passar. Antes de vir para era uma vez na América me disseram que eu ia ficar no Village e meu livro já tinha até título “Village People”. Agora estou pensando em comprar a mão de borracha e escrever “Brooklyn Back Montain”. Hoje eu estou péssimo! Digo, nos trocadilhos. Tem um monte de amigos me encontrando no blog, talvez eu adote o Lorez antes que os credores me achem. E quanto a cada um cuidar de si, por aqui, me referia as roupas. Porque aqui todo mundo é polícia. Ou do FBI.
E lembrado o Dólar day, aqui perto de casa tem um mercado que chama “Tudo por 99¢ ou mais”. Brilhante!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007




14 de se
Me desculpe por ontem. Eu saí do personagem. Como de medico e de louco já dizia o provérbio, dobrei a dose do antidepressivo. O problema é que um dos efeitos colaterais da sertralina é a compulsão por gastar e eu estou na porra de um shopping center. Pena que eu estacionei meu carro tão longe. Quando eu voltar ao Brasil vou precisar ter uma longa conversar com o Senhor Citibank e com a Dona Visa. Já tive que comprar outra mala só para levar os bagulhos. Se continuar assim vou ter que pagar uma passagem para um desses piratas do Caribe e comprar mais duas malas. E a gente só compra coisa para pegar pó. Deixa lá até que o pó as esconda. Aí, no dia da chuva eu resolvi economizar. Fiz uma pesquisa de mercado e cotei o preço de todo guarda-chuva vendido em ambulante. Acabei comprando um por $4,99. Ele é ótimo, porque uma vez aberto não fechará jamais. Acho que foi projetado visando um dilúvio. E no dia da chuva eu tomei tanto expresso que quando cheguei em casa eu parecia o Fred Astaire sapateando com um guarda-chuva aberto nas mãos. E aqui em Red Hook Chili Peper o problema é a noite. Mesmo não gostando de tv ela faz falta. Imagina o sexo, isso geralmente a gente gosta, só na base da auto-ajuda. Não que eu não seja adepto. Já pensei em escrever um livro de auto-ajuda só com técnicas de masturbação porque essa é a única forma de auto-ajuda que eu conheço. Vamos deixar a natureza de lado, eu não havia mencionado um fenômeno que estava ocorrendo nos primeiros dias aqui no apartamento. Eu acordava sentindo um cheiro insuportável de alho próximo a minha cama. O cheiro só surgia no período da manhã e dominava todo o apartamento porque é um loft. Eu saía cedo e acaba esquecendo de procurar pelo alho. Quando voltava à noite, não tinha mais cheiro. Na manhã seguinte a mesma merda, digo, alho. Finalmente encontrei as cabeças e joguei fora. O cheiro passou, mas acho que eu peguei uma virose. Ou os fantasmas voltaram. Eu sou hipocondríaco, não nego. Vou comprar novas cabeças de alho. Vai que é o espectro do Rasputin. E por falar em hipocondria e cabeça, e aquele “gusano”? o pirata protagonista disse que ele pegou a mulher porque ela gostava de “pastillas”. Eu adoro “pastillas”. E se não for virose, for “gusano”? e se o “gusano”comer o que resta de meu cérebro e eu morrer com a cara preta num vagão do metrô? E se o “gusano”atravessar minha cabeça e comer meu chapéu? Não, deve ser só uma gripe. Mas e se for uma gripe asiática? Ontem eu estive em Chinatown. O segredo é escrever pela manhã. E comprar umas cabeças de alho.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007




13 de set

LICENÇA POÉTICA.

Acordo
seguidas vezes
no meio
da noite.
Acordo
mas não abro os olhos.
Não tateio o vazio
sei que ele está
Ao meu lado.
Só não sei
Se desperto.
Nos amarrotados lençóis
Da cama que desfiz
Há quase dez
Dias.
Nunca mais alinhei.
Sei que era dia 4
de setembro
dos nossos dias.
Dia que postei
Um mapa
de um lugar familiar e estranho
ao mesmo tempo.
Agora
É cada dia menos
familiar.
Conheço as ruas
que me aprisionam
ao redor.
Acordo e creio não ser
Iliya.
Mesmo ocupando
O seu lugar.
Espero que alguém
Possa ocupar
o espaço
que deixei.
E assim um outro
Que não esse
personagem
de chapéu
possa crer
que sou eu.
E eu pensarei
que voltei.
Cada dia que passa
cria
um novo
Nós.

Hoje cruzei a ponte do Brooklyn a pé pela primeira vez. Embora a impressão não seja essa. Aqui é como se tudo já fosse. Aqui, tudo se viu. Tudo se cruzou. Aqui é um lugar que todos conhecem. É como caminhar na lembrança. Talvez, não na sua própria, mas de qualquer forma, na lembrança. Aqui todo mundo se parece com alguém. Aqui, amanhece sempre de novo. É como naquele filme do dia da marmota. Todas as ruas já foram atravessadas. E todos os esquilos são o mesmo.
O esquecimento é quase um perdão.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007




12 de sete
Hoje eu não conseguia sair da cama. Acordava e dormia. Quebrei a rotina. Não bebo mais plasma, agora quando estou por aqui preparo o solúvel “Café Bustelo”e só tenho ido ao parque a noite. Estou quase ficando amigo de um morcego. E por falar em morcego, anteontem a noite entraram duas centopéias pela janela do apartamento. Não sei se eram centopéias pareciam mais duzentopéias, cada uma. Criaturas saídas dos livros de Burroughs. Uma eu esmaguei, a outra está por aí, por aqui, digo. Ontem nem fui ao telhado por causa da chuva. Estou postando duas fotos, uma delas é para as meninas que gostam de esquilo, e talvez, principalmente, para os meninos que gostam desse tipo de esquilo. Ele estava na Time Sq. A moça cavalo estava na 14St.E uma oferta de Marlboro. Hoje preparei meu solúvel e fui fumar o meu matinal no telhado. Sofri um lapso de lucidez que não me lembro ter provado isso antes, não nessa intensidade, mas fiquem tranqüilos, já passou. Vamos falar sobre ontem. Da minha janela podia ver a luz que se projetava até o infinito como símbolo do fantasma das torres. Não posso perder uma piada dolorosa e infame, por que não pensaram nisso antes? Fizessem as torres de luz. É claro que viria um terrorista e puxaria o fio da tomada. Desculpem, dizem que com certas coisas não se brinca. Eu não consigo evitar. Nós somos uma grande piada. Uma piada sem graça, mas uma piada. Vocês perceberam como estou usando “Mas”? E por falar em piada, ontem o ônibus para a Smith St estava impagável. Parecia um numero. Já no ponto havia um casal discutindo aos berros. Um casal branco e junto deles um senhor que deduzo que fosse o pai do animal. O cara gritava com a mulher, sua, Mother fuck pra lá Mother fuck pra cá. Pelo que pude captar do bate-boca alguém ligou para o fulano, provavelmente o agente da condicional, e ela ao invés de dizer que ele estava dormindo disse que ele não estava em casa. De repente o cara meteu uma gravata na mulher arrastou ela para um canto e começou a beijá-la. A moça que deve ter sido bonita numa outra encarnação não se deu por satisfeita e então foi ele quem começou a soltar uns Mother fuck baixinho. Ela tinha poucos dentes e isso fazia a expressão soar de uma forma muito melódica. O ônibus chega. Dentro haviam várias pessoas, mas dois pareciam piratas do Caribe. Um branco tatuado e com brinco de argola um bigode com estilo, o outro lenço na cabeça e dente de ouro. Nisso entra o protagonista, outro pirata, um chicano clássico. Cabelo comprido preso num rabo de cavalos, bigode descendo junto a boca até o queixo. Ele era hilário. Falava com todo mundo e narrava a história de uma mulher que morreu dia desses dentro do vagão do trem que iríamos pegar. Ele disse (tudo de forma bilíngüe a maior parte das palavras em castelhano) que a mulher era uma moça linda, uma “índia” linda mas que ela gostava de “pastilha” e foi engordando, engordando e que havia um “gusano” dentro dela e que ele foi comendo sua cabeça por dentro, os miolos e ela morreu coma cara preta e inchada dentro do vagão. Então eles começaram a falar de superstição e o pirata do Caribe com dente de ouro disse que entrou numa Deli e pediu café e que antes de dar o primeiro gole o café entornou. Ele foi embora porque disse que isso é sinal de que alguém queria o seu café. Alguém ou algo, sobrenatural. Imagina se ele vê minha cena no café Europa? Eu lavando metade das amigas que almoçavam em duplas? Bom, preciso trabalhar. Ontem passei o dia em Manhattam. Encontrei com Capitão Rodriguez pela segunda vez. Almoçamos juntos depois nos juntamos a Maria e fomos ao cinema. Assistimos a um filme de Cawboy, cujo nome era algo como “3:11 for Yahhoo”algo assim. E era cheio desses atores famosos que eu nunca sei o nome. A lu ia gostar do cinema porque depois do aviso de “desliguem o celular” vem um que diz “não conversem durante o filme”. Um beijo a todos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007



10 p/11 de setem
OS AMERICANOS DO FUTURO TERÃO AS MÃOS LIMPAS E O MENINO QUE SORRIA DEBAIXO DE UMA FOLHA DE PAPEL.
Dois pequenos incidentes que presenciei em um mesmo dia.
Estava no jardim que falei, acho que falei, aquele na Henry St com a Pacific St. Meu atual escritório na parte nobre do Brooklyn. Onde faço meus apontamentos. Então entrou um garotinho que tinha entre 3 e 36 anos, sou péssimo para dizer a idade de uma pessoa. Vamos ficar com 4, isso 4 anos de idade. Ele entrou no jardim, só havia eu e um outro vagabundo, e o menino começou a brincar com as coisas. De repente seu pai começou a gritar de uma forma um tanto exagerada e a dizer:
- “Não toque em nada! Tire suas mãos daí! Quantas vezes eu já falei para você não tocar nessas coisas da rua!?”
Ele era um sujeito bem apessoado, da parte clara do bairro, classe media, ou até rico. Foi estanha a cena. Parecia que ele estava sendo dublado por uma outra pessoa. Passou.
Na volta para casa, no trem, entrou uma família, ou parte dela. Duas jovens senhoras e um lindo garotinho negro. Ele tina entre 6 e 38 anos, Vamos fechar em 7. Ele carregava uma máscara nas mãos. Uma máscara muito simples que eu nunca tinha visto antes. Era uma folha de papel. Uma folha de caderno, papel pautado, com dois olhos recortados. Uma outra tira de papel fazia as vezes de um elástico. O garotinho vestiu a masca. E dava para ver o quanto ele sorria pelo brilho de seus olhos. A mãe dava bronca. A outra que devia ser a tia, olhava com repreensão. De repente a mãe vê uma sujeira na mão do menino e pergunta:
- “O quê é isso?! Que diabo de sujeira é essa na sua mão?!”
(livre tradução do autor)
Então a tia que carregava uma garrafinha de água, como 90% das pessoas devido ao intenso calor, despejou a água para limpá-lo. A mãe arrancou sua máscara e secou a mão do menino com ela. Destruindo assim o brinquedo e o sorriso.
Parece poético, ou até piegas, mas foi a cena que eu vi.
Hoje eu fui a Manhattam. Sem destino. Agora que aprendi a usar o metrô resolvi saltar na 50 St com a Sétima Avenida. Meu primeiro café foi onde almocei. Majestic Delicatessen Café. Comi um tal de Monte Cristo, não o conde, um sanduba tipo um beirute prensado. Presunto defumado, alface, tomate e queijo derretido. E tomei um expresso. O expresso de lá é uma porrada. Caiu uma chuva leve, mas não refrescou. Eu andei. Andei muito. Sem objetivo ou destino. Ah! Quando tomei o ônibus para ir até a estação Smith St encontrei aquela brasileira que mencionei outro dia, a que cuida de idosos. Dessa vez eu perguntei o seu nome, mas sou péssimo com nomes. Esqueci. Esqueci também o nome do alemão do telhado. A brasileira, sempre muito simpática também perguntou o meu nome, e eu falei. Então ela disse:
- “Lorez”! “Ai que chique”! “É francês”?
Eu disse, sim. É francês.
Hoje eu comprei um bonito chapéu para meu irmão. Não queria ser indelicado, mas um escritor sempre é. Estou muito feliz porque assim que cheguei em NY ele me telefonou. Ele está livre. Saiu da cadeia e isso me encheu de alegria. Ele é uma pessoa incrível, difícil, calado, mas uma pessoa impar. Não teve muita sorte na vida e quando teve não soube aproveitar. Ele é meu irmão caçula e já me ajudou muito quando precisei. Por isso, sem saber o que levar para ele, eu comprei um chapéu. Amanhã vou comprar um daqueles baralhos que postei no blog. Acho que ele vai gostar. Na cadeia não entra baralho. Os únicos jogos que são permitidos na cadeia são dominó e xadrez.
Boa noite a vocês e obrigado pelos comentários.
Lourenço.



10 de setemb

Dois dias antes de embarcar nessa viagem eu conclui um novo livro “A Arte de Produzir Efeito sem Causa”. O livro trata de um personagem que fica obcecado com um fragmento de jornal que recebe pelo correio. Não há remetentes. Junto, no mesmo pacote, vem ainda um pedaço de tecido, veludo, vermelho e três Cds que ele não consegue rodar. Eu já chego onde quero, deixe-me apenas dividir algo curioso, a cabeça da matéria que o personagem recebe está em inglês, língua que ele desconhece quase completamente. Consegue que traduzam para ele, ele mesmo havia feito uma tradução palavra por palavra junto a um velho dicionário. A tradução não o convence. Ele começa a achar que aquilo quer dizer algo somente para ele. Então começa a desenvolver uns gráficos buscando um sentido abstrato que apenas ele poderá compreender. Algo indivisível. Vermelho e obcecado. Obcecado em inglês pode ser “hooked”. Estou em Red Hook. Apenas um devaneio infame, não era isso que ia dizer. O ponto onde quero chegar é que anunciei que havia parado de fazer Histórias em Quadrinhos. O trabalho é imenso e não compensa. Já não estava com o mesmo fôlego e tenho certas mágoas em relação a isso. Decidi, então, que iria também parar de desenhar. Talvez conseguisse reformatar meu cérebro. Eu queria desenhar por desenhar, como fazia quando era garoto. Nunca mais desenhei dessa forma. Sempre era para alguma publicação. Sempre era trabalho. Nunca tive um caderno de esboços porque desenhava muito e quando tinha uma folga era a única coisa que não queria fazer para passar o tempo. Curiosamente comecei a fazer uns gráficos. Comecei a ordenar o alfabeto de forma gráfica. Recentemente eu adotei um filho o Grampá que é um virtuoso quadrinhista e ele fica me provocando, sempre me presenteando com incríveis álbuns de Quadrinhos, materiais e etc... dessa forma, ainda antes de partir eu acabei desenhando. Desenhando por desenhar. E foi muito bom isso. Aqui, pretendia encontrar uma loja de material de desenho para comprar bico de pena e nanquim. Não encontrei nenhuma ainda, mas comprei um Sketch Book e umas canetas de ponta fina. E tenho passado algum tempo brincando com isso. É muito bom desenhar por desenhar. Rabiscar. Sem pretensão e sem ser um trabalho. Sem objetivo, a não ser rabiscar. Ontem comecei a trabalhar pra valer. Fiz uma minuciosa varredura na área em que meus pombinhos iram percorrer (não esqueçam que o projeto Amores Expressos trata de histórias de amor. Amor de qualquer natureza). Encontrei a loja onde meu personagem irá trabalhar “True Value” esquina da Court St com a Schermerhorn St. Isso fica entre Downtown Brooklyn e Cobble Hill. O pessoal da loja não é nada simpático e dois funcionários ficaram me seguindo pelo estabelecimento. Por isso, para poder explorá-la melhor acabei comprando algo para distrair a atenção deles. Será preciso voltar algumas vezes lá, mas consegui fazer uns primeiros registros. Do outro lado da rua há uma incrível livraria a “Barnes & Noble” onde comprei alguns livros que servirão de material de pesquisa. Está é apenas a terceira vez que saio do Brasil, sem contar uma vez que eu a Lu e um casal de amigos cruzamos a fronteira da Argentina apenas para tomarmos café. As outras duas vezes estive em Portugal, terra que eu amo. Da primeira vez fui com a Lu e sem dinheiro algum, fomos participar de uma exposição e lançar O Dobro de Cinco. No ano Passado voltei e passei quinze dias sozinho, dez deles instalado em uma inesquecível cidade chamada Beja. Quero muito voltar lá um dia e rever os amigos que fiz. Dessa vez eu tinha um pouco de verba e acabei trazendo 17 kilos de livros. Eu adoro as edições e traduções portuguesas e espanholas. Para nao correr, ou recorrer no mesmo erro resolvi postar os cinco grossos, mas nem tanto, volumes que comprei para minha pesquisa na Barnes & Noble. A brincadeira custou $69,00 mais a caixa $1,29. Um dólar por dia?! Eu queria encontrar a figura que escreveu esse livro. Nem aquele povo que só se alimenta de água consegue viver com essa quantia. A garrafinha de água custa mais do que um Dólar. Voltando ao trabalho. Agora comecei a trabalhar para valer em minhas pesquisas, é a melhor parte, sempre achei. Ir construindo a estrutura em que irá se apoiar a trama. Como não sabia o que compra na loja-pesquisa acabei pegando um par de luvas para trabalho pesado. Nunca se sabe o dia de amanhã.

domingo, 9 de setembro de 2007



09 de setembr
Há um alemão no meu telhado.
Para provar que a briga com o Cabeção foi real estou postando duas fotos. Uma eu o flagrei despercebido, na outra ele se fez de morto.
Preciso confessar uma coisa. Eu não gosto de internet, nem de blog. Por isso quando me advertiram que fazia parte da viagem postar comentários num blog eu disse que faria desde que eu não tivesse que responder perguntas ou ler comentários. Porque isso me desconcentra e ocupa muito tempo. Mas, eu mandei um email para o Rafael, que cuida do processo do blog e disse que estava arrependido e que gostaria de ter acesso aos comentários. Agora eu tenho. Vou fingir que não, mas tenho. Nao vou comentá-los, mas vou ler escondido. E tem sido muito bom escrever esse blog. E ler os comentários. Sempre gostei de dividir minhas impressões e contar minhas histórias. Vocês tem sido uma companhia muito agradável. Me desculpe se algum de vocês é esquilo. Acho que fui meio indelicado com a classe. Ontem descobri duas novas partes do Brooklyn. A área em que estou chama-se “Red Hook”, “gancho vermelho”. Estranho esse nome, não é mesmo? Mas voltando, descobri primeiro uma região chamada de “Carroll Gardens” não sei a razão do nome. Descobri um café muito gracioso onde parei para comer um bagulho e tomar o de sempre, dopio. Na área há vários desses pequenos jardins muito bem cuidados como vemos nos filmes e estão abertos ao público e geralmente estão vazios. É aí onde tenho feito minhas notas para depois postar no blog. Não levo o lap-top porque é pesado e gosto de fazer os apontamentos em cadernos. Seguindo em direção a ponte, há ainda “Cobble Hill”, “monte remendado” ou será, recortado? Nao sei. Nessas duas áreas aquela minha teoria antropo-sociológica cai por terra. Nessa área vive 90% de americanos tradicionais, “regular”. Não se vê muitos latinos ou negros. Negros eu só vi dois, nessa área particular. Os esquilos também caem radicalmente de proporção. Essa é a área clássica que vemos nos filmes. Há café expresso e grandes livrarias e até mesmo cinema. Isso sem falar nas lavanderias. Há quatro delas para cada um dos incontáveis restaurantes e Deli’s. Tomei até uma deliciosa limonada vendida por dois garotinhos tipicamente americanos $0,50¢. Subindo um pouco mais chegamos a “Downtown Brooklyn” e “Fulton Ferry”. Ai a coisa muda radicalmente. Só há negros e latinos e um imenso comercio de roupas, artigos esportivos, Macy’s(caríssima), Pizza Hut, Mc Donald’s, Dunkin Donuts e incluindo a fantástica Duane Read Pharmacy. Comi o numero 2 na Wendy’s. Dois hambúrgueres (quadrados) cebola (crua) alface, tomate e molho especial num pão sem gergelim. Como nao estava preparado para encontrar tantas coisas resolvi voltar lá hoje. Nao havia levado a câmera, mas ainda não vou postar as fotos. Tenho colocado muitas imagens e hoje as imagens do cabeção falam mais alto. E no passeio de hoje descobri ao menos duas Starbucks nessa área tão próxima de casa. Vocês devem estar pensado que quando me convidaram para esse projeto dos Amores Expressos eu devo ter entendido Amor por Expressos. Sem comentários. Bom, apesar de ser domingo comercio estava quase todo aberto. Almocei um pedaço de pizza e tomei três expressos dopio. Depois voltei para casa. Fui ler no parque Red Hook e depois quando fui fumar um cigarro no meu telhado, havia um alemão na rede! Não pensem que eu armei a rede! Era dessas redes, redes. De dormir. Ele é meu vizinho e o apartamento dele também tem uma janela que dá para o telhado. Conversamos muito. Ele até me convidou para um churrasco que fará no telhado no próximo fim de semana. Foi a primeira longa conversa que travei nessa primeira semana que se completa hoje. É isso, eu acho.

sábado, 8 de setembro de 2007








08 de setembro.
A vizinhança e um esquilo chamado Cabeção.
Ontem eu comecei a ficar deprimido. Só para ilustrar, há uma parede nesse apartamento que está toda rabiscada com desenhos infantis, provavelmente feitos pelas filhas de Iliya. E eu, discretamente comecei fazer aquelas barrinhas que fazem os presidiários dos filmes para a contagem do tempo. Fiz de forma discreta e imitando o traço, é claro. Só para dar uma idéia da minha solidão, ontem, somente ontem eu descobri que não há tv em casa. Eu mal assisto tv, mas era uma saída. Porque é muito caro para sair a noite e eu não bebo, não me resta muita opção porque um táxi de Manhattam até minha casa dá mais de $70,00. Foi aí que eu entendi porque Iliya me ensinou a usar aquele trabuco que projeta DVD na parede. O afresco contemporâneo. Liguei para a minha namorada-esposa aí no Brasil e falei com Francisco, meu filho. Eu estava feliz por ter conseguido comprar o videogame que ele pediu de aniversário. Só que falar com eles me deixou ainda mais solitário. Eu já viajei outras vezes, sozinho, mas dessa vez... não tenho com quem falar. A noite estava insuportavelmente quente. Fui dar uma volta no parque, depois voltei. Era sexta-feira e tocava uma musica muito alta. Foi difícil dormir. Tive que contar com a ajuda da medicina, como faço diariamente.
Hoje, ao levantar, decidi que não iria a Manhattam. Posso viver sem expresso. Por isso preparei duas grandes xícaras de um novo instantâneo que comprei “Café Bustelo”. Produto importado de Miami. É de fato uma marca mais forte e concentrada do que a anterior com cor de paçoca. Levei a segunda xícara o um livro e o cigarroo para o telhado. Mas minha cabeça estava aí no Brasil. Como eu sabia que o Francisco estaria sozinho em casa resolvi ligar para ele de novo, só para dizer que as pessoas que cruzo na estação de trem Smith st 9th st, a estação que uso diariamente para ir a Manhattam, bem as figuras são idênticas às das gangues do GTA um videogame que jogava muito com ele. Depois levei meu livro para o parque para continuar a leitura. Hoje é sábado e por isso a maioria dos bancos, incluindo o meu, estavam ocupados com famílias fazendo piquenique. Outros passeavam com seus cachorros. Quando estava prestes a voltar para casa avisto Cabeção. Cabeção, meu amigo esquilo. Ele parecia irritado e mal o cumprimentei e ele começou a discutir comigo:
- “Que diabos você faz aqui? Por que não vai escrever lá na terra que o pariu? O quê você pretende, afinal? Eu li a porra do teu blog! Vai falar mal dos Estados Unidos? O quê você quer? Compreender o outro? É isso? Como pretende escrever uma história sobre um lugar que você jamais, Jamais! Conseguirá entender? Pegue essa cabecinha doente com esse chapéu ridículo e volte para o buraco de onde veio!”
Vamos esclarecer uns detalhes amigos leitores, eu sou careca. E como careca reivindico certos direitos. Por exemplo; pagar meio corte de cabelos. Por isso, durante muito tempo procurei um lugar para cortar meus cabelos nessas condições. Um lugar que eu chamo, ironicamente, de “instituti”. O problema é que a dona do lugar é uma figura tão bacana que hoje em dia eu faço questão de pagar o dobro de um corte normal. Ela me ganhou. Por que estou dando toda essa volta? Para justificar o chapéu. Sim, eu comprei um chapéu. Na verdade comprei três. Sei que quando voltar vão dizer: “O cara voltou metido dos EUA agora usa até chapéu”. Mas foi a Sueli, a dona e cabeleireira do “instituti” que me orientou a usar chapéu porque apareceram umas manchas na parte de fora da minha cabeça, dentro já estava cheio delas, e ela disse que essas manchas no couro cabeludo, no meu caso couro careca, devem ser cuidadas e protegidas do sol. Disse que eu deveria usar um potente filtro solar, mas eu expliquei que odeio essas coisas melequentas e perfumadas. Então ela disse: “você deve usar um chapéu”. E acabei achando alguns por aqui que eu gostei. É isso. Eu também pretendo, como já anunciei em certas palestras, lutar para que os carecas adquiram vagas de estacionamento. Como conseguiram os deficientes, mas essa já é outra história. Eu não discuti com o Cabeção, simplesmente saí andando. E essa foi minha sorte porque a cabei descobrindo o lado charmoso do Brooklyn. Mas, isso eu vou contar amanhã. Seguem imagens dos meus arredores.
Hoje vou dar uma festa no telhado e não vou chamar o Cabeção, nem o pica-pau galinha. Antes só do que ouvindo as verdades.